A.R. de Mesquita
Instituto Oceanográfico da USP - Brasil
Medidas sistemáticas do nível do mar se iniciaram no Brasil,
em 1905, pelas autoridades do Porto do Rio de Janeiro e, hoje, se encontram
sob a administração da Diretoria Nacional de Portos e Vias
Navegáveis (DNPVN). Outros locais da costa tem estações
permanentes de medições maregráficas que são
mantidas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN)
da Marinha do Brasil e pelo Instituto Oceanográfico da Universidade
de São Paulo (IOUSP). Fig. 1.
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Várias comunicações tem alertado para as causas recentes da alarmante variação do nível do mar, que também tem sido observada nas orlas costeiras do pais. 0 aumento da temperatura das águas de superfície dos oceanos, a diminuição do gelo polar e o aprisionamento da radiação solar pela atmosfera tem sido apontados como causas principais desses eventos.
A utilização tradicional das medidas das marés, entretanto, tem sido a da determinação das Constantes Harmônicas, assim chamadas em razão da utilização dessas constantes, pois através delas são feitas as previsões das alturas e horas de ocorrência das marés altas e baixas para os diferentes portos da costa brasileira, baseada na anti-transformada de Fourier (isto é, a série de Fourier).
A Diretoria de Hidrografia e Navegação é a instituição que, a nível nacional, produz as previsões para vários portos brasileiros. 0 Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo tem feito as previsões de marés para os portos das cidades de Ubatuba e Cananéia, onde se localizam as suas bases de pesquisas, em vista do interesse demonstrado pelas comunidades locais por esse tipo de informação.
Tais previsões tem também sido feitas por modelos numéricos hidrodinâmicos, que prevêem não somente as alturas e horas de ocorrências das marés, mas também, os valores da intensidade das correntes a elas associadas, a partir das constantes harmônicas e das forçantes de natureza meteorológica (vento e pressão atmosférica principalmente), amparadas num consistente conjunto de equações hidrodinâmicas.
As determinantes meteorológicas influenciam as variações do nível do mar na costa sudeste produzindo oscilações com duração de 3 a 6 dias. Estas periodicidade são devidas às passagens dos sistemas frontais atmosféricos (frentes frias).
Tais determinantes são ainda importantes na definição das variações sazonais (variações mensais) do nível do mar que apresenta picos referentes aos meses de Fevereiro (efeito do verão) e de Abril - Maio (devido à variação estérica do nível do mar em conseqüência da ação do vento sobre o ramo sul da Corrente do Brasil). Valores máximos secundários são observados nos meses de Agosto e Novembro e são, presumivelmente, associados á variação anual das intensidades das correntes marinhas localizadas entre 200 a 1000 metros de profundidade.
Valores baixos do nível mensal são observados entre os meses de Dezembro e Janeiro, em razão da ocorrência do fenômeno de ressurgência causado por um mecanismo termohalino de circulação costeira, que é máximo no verão, nas costas Este e Sul do pais.
A variação de longo termo (níveis médios anuais) apresenta, na costa brasileira, valores positivos e negativos do coeficiente de regressão ( C ) - C > 0 indica nível médio relativo do mar crescente; C < 0 indica nível médio relativo do mar decrescente como tempo (Fig. 2). Na costa sudeste do pais a variação é, em média, +30 cm/século.
Nos anos recentes é observada a ocorrência de um acréscimo do valor absoluto do coeficiente (C), o que está de acordo com as observações registradas nas costas sulamericanas do Oceano Pacífico, nas costas africanas do Oceano Atlântico, nas costas Este e Oeste da América do Norte e costas da Europa.
Os valores médios de (C) das áreas oceânicas sulamericanas e africanas, nas quais a costa brasileira se insere, é da ordem de 10 cm/século.
Na continuidade do programa para o nível do mar dentro do programa
GLOSS, prevê-se para esta e a próxima década: -1- A
continuação do programa de medições do nível
do mar nas áreas abissais brasileiras; -2- A recuperação
dos dados de marés dos portos referidos na Figura 1, correspondentes
às séries históricas da costa brasileira; -3- Utilização
de modelo numérico de larga escala para previsão do nível
do mar e das correntes a ele associadas; -4- Utilização de
dados de altimetria de satélites para a previsão de nível
do mar no Atlântico Sul e de outros parâmetros de interesse.
Tais como medições através de GPS - Global Positioning
System -, medições de gravimetria absoluta etc.; -5- Modernização
e automação da rede maregráfica.
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Figura 2. Valores das tendências ( C ) das series do nível do mar, de portos da costa brasileira, das costas sul-americana do Atlântico e do Pacífico e da costa africana do Atlântico. Os valores ( C ) estão dispostos em função do comprimento das séries. As linhas unindo os pontos são hipotéticas. Áreas hachuradas indicam valores C, das séries que se correlacionam com baixos valores (coeficiente de correlação),:r = 0.3., com os valores da reta de regressão, que foi gerada a partir dessas mesmas séries. |